Em fevereiro uma polêmica viralizou as redes sociais. Os desabafos de Juliana Reis e Natália Pinheiro que com coragem falaram sobre as dificuldades da maternidade, com frases como: “A maternidade não me faz feliz, o Yuri me faz feliz. Eu não amo ser mãe” (Natália) e “Quero deixar bem claro que amo meu filho, mas odeio ser mãe” (Juliana).

As manifestações nas redes sociais foram instantâneas e ganharam grande proporção de pessoas a favor e contra. Infelizmente as manifestações criticando os desabafos foram de tal tamanho que o perfil social de Juliana Reis foi bloqueado por algumas horas.

Então me veio a pergunta: Por que as pessoas se incomodaram tanto com as colocações de Juliana e Natália?

Papel de mãe

Infelizmente, apesar dos avanços que a luta feminista teve ao longo dos anos, a imagem santificada da mulher como mãe ainda é muito forte em nossa sociedade. É extremamente difícil desvincularmos a representação de mãe, que aprendemos desde cedo, de uma visão extremamente amorosa, carinhosa, disposta a abrir mão de tudo pelo seu filho. Na verdade, a representação que temos da mulher de um modo geral está muito ligado a essa “mulher cuidadora”. Geralmente são as mulheres que ficam em casa para cuidar dos filhos, do lar, dos idosos e dos enfermos.

Assim, pensar que essa mulher que “abre mão de tudo” para cuidar do seu filho pode ter também suas necessidades é algo que não é considerado – “como assim uma mãe que pensa nas suas necessidades antes das do seu filho?”

A saúde da mulher multitarefa

Como tal construção social afeta as mulheres e mães no dia-a-dia? As mulheres que atualmente são intimadas a serem multitarefas, tendo que dar conta de trabalhar fora, do trabalho doméstico e do cuidado dos seus entes queridos? E muitas vezes sem o apoio de um companheiro!

Nas últimas décadas doenças cardiovasculares e crônico-degenerativas vêm aumentando entre as mulheres; doenças essas que tem uma forte relação com o estresse, sobrecarga de responsabilidades, competitividade, assédio moral e sexual etc (Brasil, 2011).

As mulheres estão adoecendo mais, porém quando as mesmas expõem as suas dificuldades e angústias são extremamente hostilizadas. Nossa sociedade, machista e patriarcal, ainda tem dificuldades em romper com padrões idealizados do que é ser mulher. Unindo-se a isso a dificuldade cada vez maior das pessoas admitirem que a vida também é feita de fraquezas e tristezas, ouvir do outro as suas limitações, principalmente quando este outro é uma mãe, torna-se quase insuportável, mas nem por isso compreensível.

 

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 1. ed., 2. reimpr. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2011.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Menu