Estamos vivendo um período extremamente conturbado em nosso país: crise econômica e política; desemprego; aumento do custo de vida; sensação de instabilidade e incertezas. Podemos observar isso em nossas conversas com amigos, no clima de desconfiança no ar, nas redes sociais, nas opiniões contra e a favor do Impeachment e muitos outros.
Como a crise política afeta a nós, Mulheres
No cenário político, estamos vivendo um retrocesso em pautas relacionadas as mulheres. Houve a redução de custos e estruturas das Secretarias de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, que foram unidas em um único Ministério. Com relação ao movimento #ForaCunha – que ganhou força no final de 2015, sendo contra o Projeto de Lei 5069/13 que propõem a restrição de direitos de vítimas de violência sexual com relação ao acesso de métodos contraceptivos e ao aborto garantido por lei – houve uma estagnação das discussões referentes a legalização do aborto.
E em nosso dia-a-dia?
Mesmo mais qualificadas, as mulheres são as mais penalizadas com relação a sua participação no mercado de trabalho. Segundo dados da PNAD/IBGE a taxa total de desemprego no país foi para os homens de 7,1% enquanto que para as mulheres foi de 9,8%. Além do desemprego, a qualidade dos cargos que ocupamos também são inferiores, reflexo da estrutura capitalista de desigualdade de gênero do Brasil. Se ainda considerarmos as condições raciais as mulheres negras são as mais prejudicadas.
Sob a ótica da crise, os patrões tentam equacionar o menor número de funcionários com o aumento na produtividade o que agrava a exploração do trabalhador. Para as mulheres:
“(…) a pressão constante e assédio moral dos patrões para o aumente no ritmo de trabalho, ou seja, produzir mais em menos tempo, no caso das mulheres, esta tendência é ainda mais nefasta, pois as mulheres passaram a ser pressionadas num maior ritmo a reduzirem as idas ao banheiro ou serem pressionadas a não engravidarem ou trabalharem doentes para reduzirem as licenças e faltas médicas. Esta já é a realidade da terceirização e da produção nas indústrias como a eletrônicos e alimentação, (a indústria de alimentação e de eletrônicos, como celulares, são as que mais empregam mulheres) porém com a pressão dos patrões crescendo com a crise, isto tende a se agravar. O aumento desenfreado no ritmo de trabalho em nome do lucro, é também, junto as já precárias condições de trabalho, responsável pelos acidentes de trabalho. A mulher trabalhadora, também pode esperar da crise, o crescimento nos tristes números dos acidentes de trabalho, dentre eles, a depressão, LER-DORT (lesões por esforço repetitivo) e outras doenças.” (FERREIRA, 2015)
A saúde da mulher sendo afetada
A crise além de afetar o custo de vida e nossa empregabilidade, também atinge a nossa saúde. Não só devido as condições cada vez mais difíceis de trabalho, mas também as consequências que encaramos em nossos lares com a sensação constante de instabilidade. Logo, surgem sintomas ansiosos, de pânico, fóbicos, depressivos que vão permeando o dia-a-dia. E não apenas em nós, mulheres, mas em todos do nosso convívio familiar: parceiros/parceiras que constantemente são ameaçados com o desemprego; filhos(as)/irmãos(as) mais novos com dificuldade de começarem a vida profissional; dificuldade de todos em acessar o sistema de saúde, que cada vez mais sofre cortes etc.
E como podemos lidar com essas sensações? Um psicólogo pode ajudar?
Lidar com essa realidade não é fácil e acredito ser importante termos um olhar crítico sobre tudo que está acontecendo. Também podemos buscar nossos recursos internos e externos para lidar com as sensações angustiantes, como o apoio das pessoas mais próximas, observar quais setores do mercado de trabalho estão dando mais oportunidade, exercitarmos olhar o cenário sob novas perspectivas e, caso seja possível, ter um suporte profissional de um psicólogo. E, assim, procurar viver um dia de cada vez tentando construir maneiras mais saudáveis de lidar com as dificuldades que nos são impostas.
Camila Simões
REFERÊNCIAS:
CARDOSO, J. (2016, 21 de março). Crise política, grelo duro e um olhar feminista. In: Blogueiras Feministas. Disponível em: http://blogueirasfeministas.com
FERREIRA, F. (2015, 29 de agosto). O que a crise econômica no Brasil reserva as mulheres? In: Esquerda Diário. Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br
Mais qualificadas, mulheres são mais afetadas pela crise que homens no CE. (2016, 03 de março). In: G1. Disponível em: http://g1.globo.com